16/09/2015

Descobri não ser uma dor de dente! Descobri ser uma... uma visita a um museu! Ou a uma galeria de arte ou a uma cidade nova... nunca fui de viajar mas acho que sei como é. Aquela sensação de esperar algo mas não saber ao certo o que encontrar e ter certeza de alguma surpresa, e que talvez por isso te consuma em curiosidade, afinal, por que fui eu a este museu? a esta cidade? a esta galeria de arte? Porque definitivamente o marketing funcionou. Fragmentos isolados atiçam, intrigam e me fazem querer ver mais. Uma vez, de passagem, vejo por alto, talvez não entenda de cara - afinal, a arte moderna é um tanto complicada - mas com certeza voltarei, e desta vez marcarei horário, irei, com calma e ansiosa - pois a sensação nunca é a mesma - e então irei de novo, até ter visto tudo sob a luz. Assim, em seguida, se eu ainda quiser mais, saberei que a dor de dente chegou.
Tenho essa mania horrível de tentar escrever em metáforas e me despedaçar, sempre acho que não está próximo o suficiente, que entenderão errado ou não entenderão de forma alguma sobre o que digo. Será que as papas em minha língua - que constantemente me fazem eufemizar - estão a se suicidar?

02/09/2015

Moro onde estiver.
lá instauro meu som,
doo minha cor,
carrego meu tom.

Vivo onde vier.
Ainda se onde estava pareça assim tão bom,
planto meu pé
se alguém ali me quiser.

Levo o que posso.
O que for véu, destroço.
Descubro qualquer negócio pra construirmos o que for nosso.



17/08/2015

Querido V.,
          Sei que mal nos conhecemos, mas chamo-o "querido" porque és muito importante para mim - imagino que não saibas disso. Participaste de um dos momentos mais importantes de minha vida, o momento que me faz lembrar porque continuo interpretando e estudando teatro.
           Em uma de minhas primeiras apresentações - havia começado a estudar teatro a pouco tempo, assim como os demais que lá estavam comigo, você entra na sala, e eu imediatamente o noto, entra curioso, nos olha, senta na primeira fileira e aguarda. Eu me concentro. Ao interpretar o texto - "Poética" de Manuel Bandeira - olho para o público, o olho e não consigo desviar o olhar, minha vontade era fazer o texto para ti, encantada. O olho, seu olhar atento, sem piscar, olhos arregalados, boca entreaberta, um olhar de admiração, de encanto, minha vontade era sorrir pra ti, Antes, naquele dia, eu não sabia que escrevendo esta carta agora me emocionaria ao lembrar. Sabe, devo a ti o dia de amanhã, minha estreia em um palco.
           Tudo que tenho a falar: obrigada.
S.

05/05/2015

Canto
porque
em pranto

Pranto
porque
encanto

21/04/2015

Dia desses
vagando pelas ruas daqui
ouvi
da sacada de um casebre
uma mulher que lamentava em seu quarto

Dizia ela que estara velha demais
para o homem a quem se apaixonara
Louca demais
Destruída demais

Comparava-se às coisas do quarto
E dizia:
'Por que dentre as coisas, só as mulheres envelhecem?'

Não conheço a quem não renuncie à velhice
Mas como pode ela
comparar o calor de seu corpo
à frieza das coisas criadas pelo homem?!

Não duvido que esta creia que Eva saiu de Adão para servir a ele
E a isto digo que não

Que não saí do homem
Ele saiu de mim
E que a beleza da minha idade reflete as coisas que vivi

E que o flautista de mãos e bocas incríveis
que vem a ela fazer serenata no jardim,
de seu corpo recusar-se, digo-lhe que quente e velha como ela sou
e que renuncio a todas as coisas frias do quarto
para que não esmaeçam o nosso amor.


11/04/2015

Um arrepio sobe a espinha
Algo flui como se
procurasse sair

Mordo os lábios
como se me engolisse
Mastigo como se quisesse sorrir